sábado, 25 de dezembro de 2010

entrilhados

Deparava-se no fim da linha, ou melhor, na linha. A pele outrora rosada, virgem, estava em meio à sujeira, à podridão, era o fundo do poço. Não, o fim da linha.
Thomas tinha seus dias como típicos de fim feliz: os menores brincavam pela casa; o maior tocava na sala o lustroso piano. Sua mulher, sempre a sua disposição.
Todas as tardes seu amigo, Dirceu, o visitava. Em umas delas, a última, Thomas anunciava com extrema felicidade a chegada de mais um herdeiro. Em um tom de espanto, com margem de tristeza Dirceu comentou com um “que bom”.
Já era noite quando em sua casa recebeu do menor um envelope. Lendo, não podia acreditar, as linhas amargas não acabam. Dirceu declarava-se responsável pela gravidez de Elizabete. Não conseguia crer, a pureza de sua vida tinha sido arrancada, dilacerada pelo seu melhor amigo. Como não bastavam as desculpas, Dirceu contou que ele e sua amada esperavam o trem. Não estavam fugindo, estavam no fim da linha, na linha, à espera do fim.

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